quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Da cegueira

Para um cego, as rosas nunca serão rosas.

Serão de todas as cores incolores
de mil sabores que escorrem das flores,
numa eterna infância dos primeiros contatos
do abusivo tato ao contrato-olfato.

As flores têm melodia, que tocam ao meio-dia,
ao som da despedida da menina (que ia, mas não queria)
- Sorria, garota! E, da vida, sinta a ventania!

Sejamos cegos!
O cego não vê a pele
O cego vê as entranhas
O cego vê com os olhos da alma
tudo será nada
nada será tudo

As rosas nunca mais serão rosas
elas serão por si mesmas.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Poema sem título (assim como você)

Não vou cantar o amor, pois isso só me traz dor.
Não vou cantar a amizade, senão morro de saudade.
Não vou cantar

Vou cantar a tristeza, que tu me deste de presente,
um Cavalo de Troia, da madeira mais decente.

Vou cantar a solidão, que não dará uma segunda chance sobre a terra
para aqueles que foram condenados a andar eternamente como quem erra.

Não vou cantar a natureza, pois não permite a minha dureza.
Não vou cantar a vida, sei que da morte não tenho saída.
Não vou cantar

Vou cantar a confusão, a fusão dos sentimentos, a mescla dos pigmentos
em um quadro sem contornos, onde a tinta esparramada forma de forma disforme
a imagem, que nem os dadaístas entenderiam. (O céu e a terra são unas)

O artista é incompreendido.

E tu foste minha mecenas.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Metalinguística

Escrever é suar o espírito,
é tentar descrever o inefável,
é transformar em escrito
o que já é insustentável.

Escrever é catarse,
é válvula de escape,
é regurgitar os sapos
e juntar os trapos.

É tentar fazer poemas quando se está apaixonado.